Morte
POR: Cris Vieira
"Quem ensinasse os homens a morrer, os ensinaria a viver (Montainge)
A morte é o destino inexorável de todos seres vivos, a única certeza que o homem tem, e que o permeia o tempo todo. A própria perda nos remete a morte, vivida como fim, processo acabado.
Não somos ensinados a morrer, falar em morte é tabu ,esse tema é evitado e ignorado, fazendo com que vejamos a morte como algo que acontece com os outros e não conosco. A questão principal é que não temos coragem de encarar nossa finitude, pois ela nos faz sentir que não somos tão importantes ou tão especiais assim.
Sempre ouvimos: Fulano morreu, ele não merecia morrer assim, ou ele foi muito cedo...Falei ontem com ele,ou, tanta gente ruim, levaram logo ele, trabalhador..... Visão da morte como castigo, punição ...nos séculos XIX e XX, tem inicio a influência da medicina na história da morte, que passa a ser considerada como algo negativo, pois é estudada em função da doença.
Já no século XX, a morte não é vista como horrível, nem agradável, torna-se simplesmente ausente, torna-se um evento solitário, que muitas vezes, é transferida para os hospitais, onde se vêem os sintomas, as doenças, mas não a proximidade da morte, nada se falando a respeito. Quando eu trabalhei no setor oncológico, via a morte todos os dias e não entendia poRque num lugar onde há presença constante da morte a mesma não era referida em seu nome, não se dizia fulano morreu, mas o leito tal fechou.
Com o avanço da medicina, a morte pode ser "adiada" mas não evitada, trazendo a ilusão de onipotência.
Pensar no morrer incomoda, porque viver também incomoda, afinal o homem vive em busca de um significado para a vida e tenta inutilmente encontrar significado “fingindo” que é imortal e que a morte nunca vai chegar, pois com tal fantasia haverá muito tempo para procurar (e encontrar) um sentido para a vida. Desta forma, nega-se a única e grande certeza que temos na vida: SOMOS MORTAIS e podemos lidar bem ou mal com a morte, mas não podemos fugir dela.
Kubler Ross, nos descreve as cinco fazer do luto, em pacientes terminais, fases estas muito bem observadas em pacientes prestes a morrer.
1-Negação
Seria uma defesa psíquica que faz com que o indivíduo acaba negando o problema,evitando falar sobre o assunto, negando completamente a possibilidade de morrer.
2-Raiva
Nessa fase o indivíduo se revolta com o mundo, se sente injustiçado e não se conforma por estar passando por isso. Por que eu? Que fiz pra merecer isso?
3-Barganha
Essa é fase que o indivíduo começa a negociar,faz barganha com Deus.É com o discurso “Vou ser uma pessoa melhor, serei mais gentil e simpático com as pessoas, irei ter uma vida saudável.”
4-Depressão
Já nessa fase a pessoa se retira para seu mundo interno, se isolando, melancólica e se sentindo impotente diante da situação.
5- Aceitação
É o estágio em que o indivíduo não tem desespero e consegue enxergar a realidade como realmente é, ficando pronto pra enfrentar a morte.
Nunca estamos prontos para morrer, nossas malas nunca estão prontas para a partida, nem para nossa e nem para a morte de nossos entes queridos, penso que este fato é que dificulta ainda mais o nosso viver. Por outro lado a morte traz a idéia da finitude, e como disse, de punição . Quando quero punir alguém, digo, que morra, ou quando não suporto viver, não suporto a dureza da vida, a mato, na intenção de por fim ao sofrimento. Também matamos aqueles que não correspondem aos nossos desejos, punindo ou fazendo deaparecer a rejeição que sinto em realação ao outro.
Edgar Allan Poe , em seu poema, O CORVO. Descreve sua percepção sobre a morte na figura do corvo .Ao longo do poema, o animal agourento parece dizer: ”Nunca Mais”; como que a lembrar ao poeta a inevitabilidade histórica da morte. O conflito interno do poeta e ‘refletido na figura macabra do corvo. Ao passo que o animal lembra o tempo todo, a tristeza e a saudade de alguém que não se terá mais, no caso sua amada falecida.
Os poetas sabem bem por em palavras suas dores e sofrimentos, vivendo em cada palavra sua morte do dia a dia em vida, lembro aqui, então, Vinícius:
A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
Virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida
A grande esperada!
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida.
V. DE MORAES, 1954.
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